domingo, 12 de abril de 2009

O paraíso na outra esquina.



Graças a Deus que conheci Vargas Llosa. O Paraíso na Outra Esquina é o segundo livro dele que leio, e me proporcionou boas horas de distração e enriquecimento cultural. A obra conta a história do pintor Paul Gauguin e de sua avó Flora Tristán. Ambos os protagonistas buscavam, à sua maneira, um mundo que, como o título do livro mostra, estava sempre na outra esquina. O início de cada capítulo faz implicitamente a pergunta “É aqui o Paraíso?”, e o desenrolar nos mostra que “O Paraíso é na outra esquina”, abrindo espaço para a próxima [des]ventura.

Solitários em suas peregrinações, avó e neto, em tempos distintos (década de 1840 e final do século XIX, respectivamente), lançam-se, de corpo e alma, na busca pelos ideais de suas vidas: ela, um mundo melhor para mulheres e trabalhadores; ele, uma arte pura, livre das corrupções da civilização européia. Lutaram aguerridamente, para conseguir alcançar um Éden que, a cada passo, mostrava-se um pouco mais além do que se pensava estar.

Para Flora, trazer a igualdade entre os gêneros era uma realização pessoal, pois sua condição de mulher marcou-lhe na pele os traços dos preconceitos, e a bala no peito, alojada ali pelo revólver do marido asqueroso e opressor, próxima ao coração, representa o enraizamento de uma cultura excludente e excessivamente moralista. Gauguin, cuja missão tendemos a perceber egoísta, busca redimir a arte, corrompida pelos prejuízos que a cultura ocidental trouxe, pois, na sua concepção, o ofício do artista só seria livre quando expressasse a selvageria primitiva do homens, a qual significa a liberdade, de espírito e física, perdida graças à colonização cristã.

O Paraíso na Outra Esquina é a realização pessoal. É o céu que parte de nós para o mundo. É também, como diz Voltaire em Candido ou O Otimismo, o nosso próprio jardim, que cultivamos individualmente, mas que no conjunto embeleza a vida.

"É aqui o paraíso?

Não, senhor. O paraíso é na outra esquina."

O paraíso está sempre em outro livro.

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