
Pergunta singela, não? Resposta complexa. Um simples “quem é você?” revela muito mais do que um nome, uma profissão, uma idade ou uma característica, na realidade a resposta desta questão tem uma gama, talvez, até irrelevante de respostas. Ou seja, na realidade esta pergunta existe, mas não para se ter uma única resposta e sim para a reflexão do que ela significa.
A prioridade, compreenda: o ser é algo único. Uma pessoa é um centro de convergência de culturas, credos, incertezas e toda uma parafernália psicossomática inerente ao ser humano. É tangido por 6 bilhões de outros centros tão semelhantes e ao mesmo tempo tão singulares o que nos leva a um infinidade de pensamentos e reflexões existentes nesse mundo tão grande. Todavia, somos envoltos por uma praga, um flagelo, algo horrendo que está destruindo aquilo que temos de mais singular, seu nome é massificação. Seja por homens ou pelos meios de controle indireto, estamos sendo sugados em direção a um enorme buraco negro, onde nem a luz conseguirá sair. Somos persuadidos por mensagens subliminares que penetram na nossa mente e nos escravizam, como um veneno que foi injetado sem a nossa permissão e agora se difunde no sangue, escravizando-o. Onde aprendemos essa tão voraz necessidade de "ter", "querer", "ser" (inerentes a massa)? De onde surgiram esses desejos?
Perceba, o “ter”, “querer” e o “ser” perderam seu significado. As pessoas não “têm” o porquê desejam “ter”, elas “têm” porque "ter" significa ser espelho de comparação, significa que eu estou superior a quem não “tem” e faço questão de todos saibam disso, ou seja, uma pessoa, e infelizmente isso é visto como normal, compra um sentido e não um objeto, e ela o faz por duas principais razões: consumismo e posse do objeto de inveja do próximo. Nosso querer está corrompido, estamos anestesiados num mundo capitalista, onde queremos tanto e podemos pouco. Pior, somos viciados em querer, somos manipulados com slogans de sucesso, bem estar e tudo mais, apenas por ter um objeto, imagine, que ser racional é esse que acredita que uma simples matéria vai mudar de alguma forma o seu caminho? O ser é ofuscado em conseqüência desse homem, é banido para um estado minúsculo, é colocado no automático onde é imantado para a órbita da ignorância, do saber comum; sua unidade fica atirada ao nada.
Agora, não é difícil entender por que o ser humano está assim. Por exemplo, existem pessoas que adoram, e não é exagero da palavra, televisão (digo, aquelas que passam grande parte do seu tempo livre assistindo t.v.). Parece haver um imã para ficarmos sentados na sala, sem fazer nada, só assistindo..., parece tão bom, o tempo passa tão rápido, nossos programas favoritos nos cativam, mas por que? Por que assistir t.v. é tão bom? É simples: assistir televisão é uma prova cabível de tudo o que é massificado, somos compelidos a não pensar, ou você filosofa enquanto assiste novela?, somos compelidos a não fazer esforço, o fato de assistir t.v. é tão simples, você senta escolhe um canal e assiste a vida de outro, assiste os supostos pensamentos de outro, você na verdade, como se estivesse caindo em uma enorme teia, torna aquilo que assiste seu, você torna seu pensamento, você se torna aquilo. Mais, assistir t.v. denota o fato da facilidade a qual estamos envolvidos, não há esforço em olhar, até se comparado a um livro assistir é mais cômodo, você é passivo nessa ação e isso é irresistível para aqueles que amam o pouco esforço. É claro que não estou falando que assim t.v. é algo abominável, mas o que digo é tomar ela como um meio de norteamento sobre como ou o que se quer da vida é impensado.
Destarte, um singelo “quem é você?” pode ajudar a definir o que realmente se está fazendo com a vida. A indagação dessa pergunta remete o ser a vários questionamentos, como: “se eu não sou aquilo que eu uso, se eu não sou aquilo que eu faço, aquilo que eu tenho, o que eu sou? Todavia, poucos percebem a complexidade dessa reflexão, o fato de conseguir anular essas simples indagações já diminui, consideravelmente, o número de respostas, ou seja, você pode não saber quem é você, mas já sabe o que não é. E é isso que faz toda a diferença, o fato da reflexão o torna diferente da maioria das pessoas, é incrível imaginar que pessoas passem anos, até vidas sem se questionar, sem refletir sobre, por exemplo, o que norteia seu certo e errado ou a decisão de suas escolhas? O conjunto disso tudo é você. É claro existem pessoas que são planas, sem conflitos, estáveis, pessoas essas que adotam como fonte de sabedoria o popular estilo americano, aquele onde um ciclo de muita festa e cerveja é idolatrado. Perceba, que não acho errado ir a uma festa ou tomar uma cerveja, o que critico é o ter que ir em uma festa, o ter que beber, as pessoas não percebem o quão ignorante é fazer algo sem vontade mas por imposição, ou seja, pessoas bebem porque beber remete ao fato supostamente imposto de aproveitar a vida e não o fazem por vontade de beber. Ao contrário, existem pessoas que pensam, que refletem sobre a vida, pessoas que percebem que não sentido em "ter" sem propósito, não há sentido em passar a vida se escondendo de alguém que não se pode esconder: você mesmo.
Sendo assim, o simples “quem é você?” tem como função não definir, mas nortear um encontro consigo mesmo, possibilitar uma indagação da vida, dos objetivos, o que é certo para cada um. Assim, talvez, fazendo isso possamos escapar desta órbita lamuriante ao qual o ser humano está sendo imantado, usando a coisa pela qual nos diferenciamos dos animais irracionais, talvez, possamos mudar esse destino ignóbil para qual estamos sendo sugados.
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