segunda-feira, 4 de agosto de 2008

minha tarde de domingo


Eu teço histórias, normalmente curtas, quase sempre minhas.Mas isso não responde quem eu sou, apenas o que faço. "É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo ....Estava sentado numa cadeira giratória, daquelas que dão olhos à nuca e mãos às costas. De frente para a janela, via o outono, com seu amarelo-frio, meio tango, meio blues.O vento não dava trégua, seguia, tirando tudo do repouso...Levantava a poeira fina da rua, fazendo os passantes apertarem os olhos e praguejarem baixo (pelo menos era o que parecia diante das caras que faziam e da forma com que gesticulavam)...Tecia uma coreografia estranha e bela, com as folhas secas caídas no chão e com os papéis que deixavam ali, displicentes. Às vezes usava um grupo; noutras, um solista. Eram rodopios e vôos sem ter fim...Tinha hora que errava de folha e ia atrapalhar a leitura do rapaz de blusa xadrez e calça de veludo, que insistia em ler no banco da praça...Como se não bastasse, ainda embaraçava os pensamentos dela, do mesmo jeito que fazia com os cabelos longos, da menina que brincava no balanço.Mas depois de tanto pé-de-vento e redemoinho, ela adquiriu uma certa prática, aprendeu que nessas horas de agito interno, o melhor a fazer é deixar estar...Assim, de olhos fechados, se permitiu ficar uns instantes aproveitando o calor do sol - que quase não estava ali.
É desse jeito que, às vezes, ela sente o seu.

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