quinta-feira, 10 de julho de 2008

Memórias esquecidas de tudo que eu ainda lembro


Às vezes eu amo conformado. Vivo num amor assim calado. Tão calado em seus gritos perdidos que ninguém parece capaz de me ouvir. Grita o coração. Grita por que não tinha. Grita por que também não deixava de ter. O que deixei mesmo foi o tempo passar, me contentei com o pouco do "melhor do que nada" e com o muito do "ainda não perdi". Até que um dia tudo mudou, hoje mudou, e perdi o que nunca tive. E existe perda maior?Então, é hora de olhar para trás. E quando eu olho para trás é porque o que eu vejo à frente não é o que sonhei. Tento entender onde foi parar você, a candidata à vaga que há 30 anos eu deixo vazia esperando alguém para preencher. E aí me perguntam por que não preenchê-la com outro alguém? É que quando a gente é feliz sem motivo ao lado de alguém os outros perdem a cor. E o preto-e-branco não me atrai. Podem beijar bem e me fazer perder o fôlego, mas e daí, se é por você que eu quero respirar? Podem até dizer "eu te amo", mas de que me servem as palavras certas quando ditas pela pessoa errada?E é tão estranho quando a gente sofre por amor. Quando se perde um amigo, você sofre, e todos que o conheciam sofrem junto. Agora, quando se perde um amor a dor é só sua, e de mais ninguém. Não há como dividir. Tudo parece que só a multiplica.Tarefa difícil se despedir, ainda mais quando necessária. Mais difícil é imaginar você dividindo a vida com outra pessoa. Meu medo é que me esqueça e me jogue em uma daquelas gavetas onde enfiamos os diplomas que lutamos para conquistar, mas que agora não nos são mais necessários.Me diga: e agora? O que eu faço? Não sei! Eu, tão dedicado às palavras de amor, não sei o que dizer a mim mesmo. E agora? Não sei de quem eu vou roubar o limão da cuba, de quem eu vou guardar as caixinhas de chicletes, para quem eu vou contar as mil frases de filmes que eu decorei, não sei com quem eu vou implicar, em quem eu vou jogar água e correr dos sprays, o livro de quem eu vou sujar de goiaba, quem vai me fazer sentir o mais feliz e idiota dos seres, quem vai me dar o jornal O Globo de 30 de maio ou a revistinha da Magali. As lembranças e a distância me aproximam do que eu não quero viver, e me afastam daquele mundo que só entendíamos nós dois. Parece até que o amor é isso, quando a gente deixa de fazer sentido para os outros.Sem respostas, é melhor esquecer as perguntas. Eu, que amo frases, vou passar um bom tempo a me repetir:
"-Eu fiz o que eu vim fazer.- Você os separou?- Não, eu me despedi!"( O casamento do meu melhor amigo).
Eu, hoje bastante confuso, talvez também consiga.

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